PELEIA
(Manoel Loureiro)
Num sábado de tardezita
Parece que foi setembro
Outubro, até nem me lembro
É quando flora a Maria mol
Com braça e meia de sol
Eu chimarreava solito
Metido no meu ranchito
Que nem galinha em paiol
O pingo estava na frente
Troteando ao redor da estaca
Eu consultei a guaiaca
E disse, se os pilas der
Total estou sem mulher
Não me custa dar umas voltas
Gaudério quando se solta
Nunca falta um arrasta- pé
E assim fiz, sai ao tranquito
Em direção ao bolicho
Dizendo não é qualquer bicho
Que hoje me pisa no pala
Apeei na porta da sala
E gritei com o bolicheiro
Me enche a guampa ligeiro
E me dá uma dúzia de bala
Bolicheiro, não retruca
E vai fazendo logo oque eu mando
Pois deve notar que eu ando
Hoje com o sangue quente que é um forno
Minha adaga não é de aço morno
Nem saco de alpedo
Já levantei hoje cedo
Com o diabo enfiado nos corno
Dali sai fachudaço
Qual nego novo em domingo
Ia faceiro em meu pingo
Troteando todo sestrozo
Eu que nunca fui baldoso
Nem cabresteio pra mágoa
Já ia mesmo com a água
Subindo em riba do toso
Nem bem descambou o perau
Já vi armado o surungo
Vi um velho sobre um biongo
Dizer pra outro taludo
Ta se chegando os caranchos
Não gostei, mas fiquei quieto
Digo este velho me paga
Enrosquei o mango na adaga
Num ar de debochador
E meu facão peleador
Como aspa de boi brasino
Na fivela dava dentadas
Nos flecos do tirador
Mas fui me chegando pra sala
Para que melhor eu visse
Veio um piazote e me disse
Mais arrepiado que pelincho
Isto está, que nem queijo em chincho
Não entre fique lá fora
E eu disse, entro e danço de espora
Ou acabo com esse bochincho
Vi num canto uma morena
Com cara de quem tem nojo
Mais linda que nem apojo
Da mansinha ou da bragada
Com uma fita colorada
Bem na ponta do ajojo
Nem bem roncou a cordeona
Fui lhe tirar sem demora
Ela me disse, assim de espora
Papai não quer, fica feio
Chinoca quando eu me alceio
Não tem papai não deixa
Não será a primeira gueixa
Que me escapa dos arreios
Mas o velho estava por perto
Sentado num banco baixo
Que mais parecia um vulto
Já me largou uns insulto
E se veio que nem fera
Vi logo que o índio não era
De se laçar com sovel curto
E dei dois passos pra trás
E arranquei dos meus talher
Foi só grito de mulher
E macho que salto pra fora
E eu disse Nossa Senhora
Hoje eu fico que nem renda
Mas muito vestido de prenda
Eu rasgo nas minhas esporas
Mas restou desse entrevero
Bordoada, balaço e talho
Diz que deu muito trabalho
Pra mode conta os feridos
Depois da briga passada
Peguei a china mais linda
E levei pra morar comigo
Hoje sim, não brigo mais
Deixei de viver solito
Vivo num lindo ranchito
Erguido assim de bom porte
De frente virada pro norte
Eu, a china e os piazotes
Peleando com a própria sorte.
Salve Bagualaços: Tenho em minha Coletânea Paes Landim, a poesia do mestre Manoel Loureiro, que recolhi nos idos de 1976, quando trabalhava na construção da Usina Hidrelétrica de Salto Santiago, em laranjeiras do Sul, lá no Paraná. Vi que ela é bastante diferente da que vcs postaram e fiquei curioso em saber qual seria a versão original
ResponderExcluirPELEIA
ResponderExcluirManoel Loureiro
Era um sábado de tardezito
Me parece que foi setembro
Ou outubro, já nem me lembro
Quando floresce a Maria- mol
Com braça e meia de sol
Eu chimarreava solito
Metido no meu ranchito
Que nem galinha em paiol
Meu pingo alí estava
Troteando ao redor da estaca
Consultei minha guaiaca
E disse: Se os pilas der,
Sou um homem sem mulher
E não me custa dar uma volta !
E assim fiz, encilhei meu pingo
E sai trotando em direção ao bolicho
Pensando: Hoje não é qualquer bicho
Que vai me pisar no pala.
Cheguei na porta da sala
E gritei ao bolicheiro:
Me de uma caixa de bala
E me encha essa guampa ligeiro !!!
Saí dali mais faceiro
Que negro novo em domingo
Mais faceiro ia meu pingo
Troteando todo sestroso
Eu que nunca fui baldoso
Nem cabresteio pra mágoa
Já ia mesmo com a água
Subindo em riba do toso
E fui chegando num bochincho...
Mas nem bem apeei do baio
Já vi armado o furdunço
Ouvi um velho jagunço
Dizer pra outro matungo:
Ta chegando gira-mundo
É bom que se tome cuidado
Aqui não se vende fiado
E tomara que ande direito
Pois se faltar com o respeito
A adaga cobra dobrado....
Não gostei, mas fiquei quieto
E disse: este velho me paga
Apalpei a minha adaga
E meu facão cortador
E vendo aquela patacoada
minhas chilenas davam dentadas
Nos flécos do tirador
E fui me chegando pra sala
Para que melhor eu visse
O velho da porta me disse
Mais arrepiado que ouriço:
-Isso aqui ta um queijo suiço
Não entre, fique aqui fora....
E eu disse: entro e danço de espora
Ou acabo com esse bochincho !
E já avistei uma china
Com cara de quem ta com nojo
Mas era mais linda que o apojo
Da mansinha ou da bragada
E trazia uma fita colorada
Presa na ponta do ajôjo
Nem bem roncou a acordeona
Fui lhe tirar sem demora
Me disse: Assim com espora
Papai não quer e fica feio
Eu disse: China quando me alceio
Não tem papai não quer
Nem mamãe não deixa
E tu serás a primeira gueixa
A me fugir do arreio
Mas o velho ali estava
Sentado num banco baixo
E com muita fama de macho
Já me soltou um insulto
E se veio que nem fera
E eu logo vi que o índio não era
De se laçar com sovéu curto
Dei dois passos pra trás
E arranquei dos meus talheres
Foi só grito de mulheres
E macho que vazou pra fora
Eu gritei: Nossa Senhora
Hoje eu fico que nem uma venda
Com tanta saia de prenda
Rasgando na minha espora...
E restou desse entrevero
Bordoada, balaço e talho
Diz que deu muito trabalho
Pra se contar os feridos
Mas passado o perigo
E a encrenca serenada
Eu roubei a china enjoada
E levei pra morar comigo
Hoje já não peleio mais
Pois deixei de viver solito
Tenho agora o meu ranchito
Pequeno mas de bom porte
De frente virada pro norte
Onde eu a china enjoada e 18 piazotes
Peleamos com a própria sorte